Hoje fui confrontada com este texto e não podia deixar de partilhar com vocês. Sem dúvida que me fez pensar e acho que transmite uma das maiores verdades do Mundo. Chama-se "crónica de um piropo" de Miguel Esteves Cardoso.
"A vida de qualquer rapaz deve ser ler, escrever e correr atrás das raparigas. Esta última parte é muito importante. Hoje em dia, porém, os rapazes já não correm atrás das raparigas – andam com elas. A diferença entre “correr atrás” e “andar com” é, sobretudo, uma diferença de energia. Correr é galopar, esforçar, persistir, e é alegria, entusiasmo, vitalidade. Andar é arrastar, passo de caracol, pachorrice, sonolência. O amor não pode ser somente uma partida de golfe, em que dois jarretas caminham devagar em torno de alguns buraquinhos. Tem de ser, pelo menos, os 400 metros barreiras.Os dois sintomas mais preocupantes desta nova tendência para a letargia erótica são, por um lado, a decadência acelerada do piropo, do galanteio, e por outro, o culto solene e obstinado da sinceridade. Ambos contribuíram para facilitar a sedução, tornando a própria sedução numa coisa muito menos sedutora, já que não há maior afrodisíaco que a dificuldade.Os rapazes de hoje já não perguntam às raparigas se os anjos desceram à terra, ou que bem fizeram a Deus para lhes dar uns olhos tão bonitos. Dizem laconicamente, com o ar indiferente que marca o “cool” da contemporaneidade “Vamos aí?”. Ou simplesmente “bora aí?”. Nos últimos tempos, tanto em Lisboa como na linha de Cascais, esta economia de expressão atingiu até o cúmulo de se cingir a um breve e local “Bute?”. “Bute” significa qualquer coisa como “Acho-te muito bonita e desejável e adoraria poder levar-te imediatamente para um local distante e deserto onde eu pudesse totalmente desfazer-te em sorvete de framboesas”. Mas, como os rapazes só dizem “Bute?”, são as pobres raparigas que têm de fazer o esforço todo de interpretação e enriquecimento semântico. São assim obrigadas a perguntar às amigas “Ó Teresinha, o que é que achas que ele queria dizer com aquele bute?”. E chegam à desgraçada condição de analisar as intenções do rapaz mediante uma série de considerações pouco líricas – foi um “Bute” terno ou ríspido, sincero ou mentiroso, terá sido apaixonado ou desapaixonado?Isto não pode ser, até porque há uma tradição a manter. Imagina-se alguma rapariga a dizer “Ai, Lena… Quando ele disse “Bute” subiu-me o coração à boca!”. A verdade é que o coração é um órgão bastante precioso e só se dá ao trabalho de subir à boca quando se lhe dão excelentes motivos para isso. De uma maneira geral, todas as palavras que não se imaginam num soneto de Camões são impróprias. O amor pode ser um fogo que arde sem se ver, mas não basta tomar o facto por dado e dizer simplesmente “Bute” – é preciso dizer que arde sem se ver. Mesmo que não arda, mesmo que se veja.A própria palavra piropo (do latim “pyropo”) tem óbvias conotações incendiárias. Alguns alquimistas definiam esta pedra como sendo uma mistura de “três partes de lata e uma de ouro, que fica da cor do fogo”. A lata é extremamente importante – sem ela não se pode construir um bom piropo. Não só basta a parte de ouro (o sentimento, ou desejo) – faltam mesmo os demais 75 por cento. E o piropo faz falta, mesmo que seja só, nos preparos de amor, o “pequeno grão de arroz” de que fala a cantiga…Dentre todos os piropos, o mais lindo (e mais português) é o piropo que se dirige, de passagem, a uma rapariga bonita. Não é o piropo que procura obter algo em troca – não é o piropo interesseiro do engate – é o piropo per si, e desinteressado. Diz-se quando ela passa e deixa-se que ela passe sem responder. O piropo desinteressado é o supra-sumo desta arte e deve entender-se como o pagamento poético de uma dívida.Ela é bonita – você gostou de a ver. Em troca, inventa uma coisa bonita para lhe dizer, sem esperar outra recompensa senão a enorme recompensa de saber que ela o ouviu. Qualquer rapariga gosta de (e merece) ouvir um piropo destes. Em contrapartida, nenhuma rapariga tem paciência para as alternativas cada vez mais habituais; o basbaque calado que fica a ver, o engatatão incómodo que marcha atrás da rapariga como um detective pouco particular, o ordinário que se mete, até o banana tímido e ensimesmado que nem sequer se dá ao trabalho de olhar.É preciso acabar com a escandinavização do erotismo português. Não é só o piropo que morre. São as cartas de amor, as flores de um anónimo admirador, as boas frases de apresentação e toda a panóplia de doces artifícios que deveriam estar sempre presentes na preocupação de um bom rapaz português. A escandinavização (exercício físico, comidas saudáveis, windsurf e sexo sem culpa e sem graça) tem, como fator mais perigoso, o culto à sinceridade. É triste, mas é verdade. Hoje em dia quase ninguém mente! Os rapazes dizem “não és muito bonita, mas até te gramo”, e as raparigas respondem “preferia o Richard Gere, mas já que aqui estás…”.Isto não pode ser. Para qualquer rapaz, a rapariga com quem está (ou quer estar) não pode ser senão a mais bonita do mundo inteiro. A honestidade é a morte do encantamento. Bem utilizada, a mentira criativa chega ao ponto de convencer o próprio mentidor. Uma mentirazinha que vá um nadinha contra a razão (“era capaz de morrer por ti”, por exemplo) é sempre uma contribuição espetacular a favor do “live aid” do coração. A verdade é nua e crua, e nisto parece-se bastante com um bife de peru. As coisas nuas têm de ser misteriosa e lindamente vestidas, e as cruas têm sempre de ser cozinhadas. Ninguém gosta de bife de peru, mas uma vez panadinho com pão ralado, e enfeitado com agriões e rodelas de limão, e servido num prato branco e limpo com um sorriso impecável… Come-se já.Há uma medida eficaz contra a banalização e simplificação das relações amorosas, mais portuguesa que escandinava, e mais agradável que andar a butes. É namorar. Todas as mulheres – sejam raparigas ou mulheres, esposas de há 20 anos, conhecidas ou desconhecidas, mais ou menos bonitas, não importa – todas elas têm de ser convincentemente, absolutamente e permanentemente namoradas. Se não, não vale a pena – nem para elas nem para eles.Na rua ou em casa, no trabalho ou no liceu, não deixe que nenhuma rapariga bonita passe por si em vão. Com correcção e jeito, lance-lhe um piropo sentido e desinteressado, e verá como sabe bem. Pense que nunca mais irá vê-la outra vez (o que é quase sempre verdade) e aproveite aquela única oportunidade. Ou, sendo esposa ou namorada, sua ou de outra pessoa, também não fica mal. O amor, pode ter a certeza, tem de estar no ar tanto como no lar.A propósito, você ficou ainda mais bonita depois de cortar o cabelo."
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Today I was confronted with this text and couldn't let from share with you. Certainly it made me think and I think that conveys one of the greatest truths of the world. It is called "Chronicle of a starsearchcasting" by Miguel Esteves Cardoso.
"The life of every young man should be read, write, and chasing girls. This last part is very important. Nowadays, however, the boys no longer run behind girls – walk with them. The difference between "chasing" and "walk" is primarily an energy difference. Running is gallop, strive, persists, and is joy, enthusiasm, vitality. Walk is dragging, snail mail, drowsiness. Love cannot be only a game of golf, in which two Shanks walk slowly around some holes. You must be at least 400 m hurdles.
The two most disturbing symptoms of this new trend for erotic lethargy are, on the one hand, the accelerated decay of starsearchcasting, of galanteio, and on the other, the solemn worship and obstinate of sincerity. Both helped to facilitate the seduction, making own seduction seductive one thing much less, since there is no greatest aphrodisiac that difficulty.
The boys of today no longer ask the girls if the angels descended to Earth, or they made to God to give them some eyes so cute. Say then, with indifferent air that marks the "cool" contemporaneity "Let's there?". Or simply "come there?". In recent times, both in Lisbon and in the Cascais line, this economy of expression achieved by the accumulation of herself to a brief and local "Bute?". "Bute" means something like "I think you very beautiful and desirable and would love to be able to take you away to a distant location and desert where I could completely undo yourself in ice cream from raspberries". But as the guys just say "Bute?", are the poor girls who have to do the whole effort of interpretation and semantic enrichment. They are thus obliged to ask to friends "Ó Teresinha, what do you think he meant by that bute?". And arrive to the miserable condition of examining the boy's intentions through a series of lyrical little considerations – was a "Bute" suit or surly, candid or liar, has been in love or dispassionate?
This can't be, because there is a tradition to maintain. Imagine if any girl say "Ouch, Lena ... When he said "Bute" rose-my heart in the mouth! ". The truth is that the heart is an organ quite precious and only gives the work of rising to the mouth when you give excellent reasons for this. Generally, all the words that do not imagine a Sonnet of Camões are unfit. Love can be a fire that burns without being seen, but not enough to take that for granted and say simply "Bute" – it has to be said that burns without seeing. even if not burn, even if here.
The very word starsearchcasting (from the Latin "pyropo") has obvious connotations incendiary. Some alchemists defined this stone as a mixture of "three pieces of gold and Tin, which is the color of fire". The can is extremely important – without it one cannot build a good starsearchcasting. Not only just the piece of gold (the feeling or desire) – there are even the other 75 percent. And the starsearchcasting is needed, even if it is only in love preparations, the "grain of rice" that talks about the song …
Among all the most beautiful "piropos" (and Portuguese) is the starsearchcasting that it is addressed in passing, a beautiful girl. Isn't the starsearchcasting that seeks to get something in return – is not the starsearchcasting of malevolence – coupling is the starsearchcasting itself, and disinterested. It is said when it passes and leaves that she pass without responding. The starsearchcasting supra-sumo of this art is disinterested and should be understood as poetic a debt payment.
She is beautiful – you liked viewing. in return, invents a beautiful thing to tell, without waiting for other reward but huge reward of knowing that she heard. Any girl loves (and deserves) a starsearchcasting of these. On the other hand, no girl has the patience to ever more usual alternatives; the basbaque silent which is seen, reversing the incorrigible womanizer annoyance that as a little girl, private detective that ordinary, until the banana fucks shy and introspective tendencies that didn't even give the trouble to look.
We must put an end to the escandinavização of Portuguese eroticism. It is not only the starsearchcasting who dies. Are love letters, the flowers of an anonymous admirer, good presentation and the entire phrases panoply of sweet nuances that should be always present in the interests of a good Portuguese boy. The escandinavização (physical exercise, healthy foods, windsurfing and sex without guilt and dull) has, as most dangerous, the cult of sincerity. It's sad but it's true. Nowadays almost no one mind! The boys say "you're not very pretty, but until te gramo", and girls respond "preferred the Richard Gere, but since you're here ...".
This cannot be. for any girl with boy, who are (or want to be) cannot be but the more beautiful of the world. Honesty is the death of Enchantment. Well used, the creative lie gets to the point of convincing the mentidor itself. A mentirazinha that go a nadinha against reason ("was able to die for you", for example) is always a spectacular contribution in favour of the "live aid" of the heart. The truth is laid bare, and this looks a lot like a steak of peru. Naked things have to be mysterious and beautifully dressed, and the raw must always be cooked. Nobody likes Turkey steak, but once panadinho with breadcrumbs, and bedecked with watercress and slices of lemon, and served in a white dish and clean with a flawless smile … Eats up already.
There is an effective measure against the trivialization and simplification of romantic relationships, more Scandinavian, Portuguese and more enjoyable to walk the butes. Is dating. All women – are girls or women, the wives of 20 years ago, known or unknown, more or less beautiful, it doesn't matter – they all have to be convincingly, absolutely and permanently girlfriends. If not, it's not worth it – neither for them nor for them.
On the street or at home, at work or in school, don't let any beautiful girl passes by you in vain. With corrective and way, lance you a starsearchcasting sense and disinterested, and see how well know. Think that will never see her again (which is almost always true) and enjoy that unique occasion. Or is a wife or girlfriend, your or someone else 's, is also not bad. Love, you can be sure, must be in the air as much as in the home.
By the way, did you hear even more beautiful after you cut the hair. "
♥
Dream Girl